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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

MORRERAM JÔ SOARES

 

Peço perdão pelo erro gramático do título, mas é impossível falar de Jô Soares no singular. Simplesmente porque ele não era único, era vários em um só. Um artista multifacetado, culturalmente brilhante, uma mente privilegiada e que nunca, nunca cansava de aprender e a buscar novos conhecimentos e se aventurar em novos desafios.

Foto: divulgação Globo

José Eugênio Soares já começou contrariando a vida ao não ter o apelido de “Zé”, “Zeca”, mas de “Jô”. E, assim, carinhosamente sempre foi chamado e amado por todos. Confesso que aprendi a gostar de humor e da arte de representar assistindo, desde criança (e aí já entrego um pouco da idade) aos programas em que ele participava. Juntamente com “Os trapalhões” e o mestre Chico Anysio, Jô construiu sua história entre os grandes nomes do humor.

Lembro de ainda pequeno assistir aos programas “Balança, mas não cai”, “Planeta dos Homens” (quem não lembra do macaco descascando a banana e saindo uma linda mulher); “A Praça é nossa” entre tantos outros que acabaram posteriormente, a render um programa exclusivo ao nosso “gordinho”, como “Viva o Gordo”. E eu como gordinho, me identificava com seus personagens e seus bordões.

Mesmo quem não tenha vivido na época vai lembrar, ou já ter visto pelo youtube bordões como “Põe ponta, Telê”, “Marilza, eu tô aqui”; “vice, não fala”; “muy amigo”; “tem pai que é cego!!”; “é o meu jeitinho”; “sois rei, sois rei!!!”... nossa, tantas lembranças agora me vêm à mente que até emociono ao escrever. Agora lembrei da sátira que ele fazia aos programas políticos da época que eram milimetricamente coordenados pela ditadura militar e que cortavam o candidato quando ele falava além do tempo ou então quando ia falar algo que contrariasse os interesses da época. Simplesmente hilário.

Portanto, não podemos deixar de reverenciar e a amar JÔ SOARES. Ele, juntamente com tantos outros humoristas deveriam ser reverenciados por seu carisma, por nos jogar na cara os nossos vícios e de quebra nos fazer rir. Por lutar pela democracia, por falar a verdade sem agredir ou ofender ninguém, pois o humor era construído com sabedoria, inteligência e, principalmente, criatividade sem apelações.

Teria tanto mais para falar, mas farei agora apenas um resumo do que foi a vida deste grande artista, jornalista, apresentador ao nosso país. Um país que perdeu um diplomata (sim  Jô chegou a estudar na Suíça e falava fluentemente cinco idiomas), mas ganhamos um mestre do humor por excelência.

Histórico

Jô fez sua estreia na televisão em 1956 no elenco da "Praça da Alegria", na Record TV, onde ficou por aproximadamente 10 anos. Já em 1958, interpretou um americano no filme "O Homem de Sputinik", dirigido por Carlos Manga e estrelado por Oscarito. No mesmo ano, escrevia para um programa da TV Continental chamado "TV Mistério”, que tinha no elenco Paulo Autran e Tônia Carreiro.

Fez outros programas na Record. Além de escrever o "Simonetti Show", atuava em outros como "Jô Show", "Show do Dia 7" , "Você é o Detetive" e "A Família Trapo", série que escrevia com Carlos Alberto de Nóbrega. Em 1965 ele protagonizou a única novela da sua carreira, a "Ceará contra 007" (Record TV), a comédia de maior audiência no Brasil na época.

Na TV Globo seu primeiro humorístico foi em 1970, com o "Faça Humor, Não Faça Guerra", que virou um marco com piadas curtas e cortes secos. Jô Soares interpretava, entre outros, o Bêbado, o professor Gengir Khan, o Irmão Thomas, Manchetão e, um dos seus maiores sucessos, a espevitada Norminha, uma jovem cantora hippie.

Três anos depois, o programa foi substituído pelo "Satiricom", em que Jô também trabalhava como ator e redator. Depois, ele passou a integrar a equipe do "Planeta dos Homens", que ficou no ar entre 1976 e 1982. Jô deixou o programa em 1981, para fazer sua primeira empreitada solo: "Viva o Gordo".

No "Viva o Gordo", Jô viveu personagens icônicos, como o Reizinho, que satirizava a situação política do país, e o Capitão Gay, super-herói que usava um uniforme rosa. Ao mesmo tempo, ele apresentava um quadro no Jornal da Globo.

Em 1987 Jô surpreendeu o Brasil saindo da Globo e indo ao SBT para poder realizar seu grande desejo: o de ter um programa em formato de entrevistas. Chegou até a fazer um programa de humor, mas não deu muito certo. Mas o “Jô Soares Onze e meia” e o bordão “Não vá pra cama sem ele” fez muito sucesso e, enquanto esteve no ar até 1999 chegou a marca de 6 mil entrevistas realizadas.

Com o casamento desfeito no SBT, retornou à “vênus platinada” em 2000 com o “programa do Jô e seu sexteto, onde permaneceu até 2016 com enorme sucesso. Uma das grandes lembranças foi na primeira semana de programa quando levou ao ar a icônica entrevista com Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Belo.

Jô também se aventurou na literatura e escreveu livros como “O Xangô de Baker Street”, “O homem que matou Getulio Vargas”, “Assassinatos na Academia de Letras” e “As Esganadas”. Jô também escreveu para teatro (eu encenei um esquete escrito por ele intitulado “O Flagrante”), entre outras. Também dirigiu várias peças de teatro, incluindo o seu grande amigo Juca de Oliveira. 

Fica seu legado, sua história. Morreram hoje vários Jô Soares dentro de mim. Deus te abençoe!

 

 

terça-feira, 25 de maio de 2021

Os números às vezes incomodam e nos fazem pensar e questionar

 

Não sei vocês, mas quando vejo diariamente na televisão os números da vacinação no país tem alguns que me incomodam por demais. Especialmente por ter participado alguns dias como voluntário nas campanhas de vacinação e ter ajudado na imunização de milhares de porto-velhenses e, no dia seguinte, ser surpreendido com os números de vacinação em Rondônia não apresentarem aumento significativo, mesmo os registros estando sendo feitos on-line.

E isso me fez refletir e a ir em busca de respostas. Rondônia, segundo o IBGE tem uma população de 1.562.469 pessoas pelo censo de 2010 e está estimada em 1.796.460 em 2020. A capital Porto Velho responde por 30% da população sendo que em 2010 apresentou o número de 428.527 e está estimada em 2020, 539.354.

Apresentado os números básicos populacionais quero apresentar os números de doses de vacina recebidas em Rondônia e distribuídas aos 52 municípios para que apliquem no braço da população criando a imunização a este vírus destruidor.

No entanto, o que constatei através do site disponibilizado para dar transparência ao processo, e que pode ser pesquisado e verificado por qualquer cidadão disposto a acompanhar a vacinação em seu Estado, são números que me entristecem, pois se verifica que muitos municípios tem estocado muito mais vacina do que as aplicadas.

A capital Porto Velho que está em plena imunização da população com uma estratégia muito bem elaborada, seja para dose 1 quanto a 2, pelo site, recebeu 170.440 doses de imunizantes, até o momento (seja da coronavac, astrazeneca ou Pfizzer) e aplicou 86.278 dose 1 e 43.988 dose 2, tendo ainda 40.178 vacinas a serem aplicadas conforme orientações do Ministério da Saúde e que está realizando cadastramento da população através do aplicativo Sasi, que pode ser baixado para seu computador ou celular nas lojas de Apps tanto para IOS quanto Android.

Mas temos municípios grandes do Estado que receberam muita vacina e não estão aplicando. Reforço, estou me guiando pelo site consultado e se os números forem diferentes desses que procurem atualizar (a consulta foi realizada na manhã do dia 25 de maio). Ji-Paraná recebeu 43.774 doses e aplicou apenas 4.598 de dose 1 e 2.576 de dose 2, restando em estoque 36.600. Isso é estarrecedor, pois “algo de errado não está certo”. Ou a cidade não tem idosos e pessoas com comorbidade, ou estas não estão querendo vacinar e se faz necessário campanhas de chamamento e esclarecimentos, ou ainda pior, os municípios não estão registrando as doses aplicadas de forma correta.

Ariquemes recebeu 27.977 e aplicou 10.826 doses 1 e apenas 3.295 da dose 2, tendo em estoque 13.856, o que representa quase 50% das doses que não foram aplicadas; Cacoal, respectivamente recebeu 33.845 e vacinou 21.155 da 1ª dose e 7.798 da 2ª dose, tendo em estoque 4.892 (14% de estoque); Vilhena recebeu 29.309 e aplicou 13.399 e 6.529 tendo 9.381 de estoque (32%).

Da mesma forma temos outros municípios como Guajará-Mirim, Alto Paraíso, Chupinguaia (que apresenta um percentual de mais de 55% de vacinas não aplicadas); Rolim de Moura (46%), Jaru (apenas 7%) e Alvorada do Oeste (29%).

Convido a todos os cidadãos a cobrarem do seu município a imunização e aos meus colegas jornalistas a questionarem as secretarias municipais os motivos pelos quais estão estocando tanta vacina. Estão com receio de faltar vacina para a 2ª dose? Faltam insumos como seringas? Faltam vacinadores? Que sejam verificados se estes números efetivamente conferem com a realidade e que estas doses efetivamente sirvam para imunizar a quem de direito.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Até onde vai a queda de braço entre governo e público

 

Lembro de março de 2020 quando iniciamos a quarentena para conter o avanço do coronavírus no país. Em Rondônia, mais especificamente, onde ainda desconhecíamos o poder destrutivo deste inimigo invisível, a grande parte da população obedecia as diretrizes sanitárias, permanecendo em casa, usando máscara, protegendo idosos, não aglomerando em festas, bares e similares fechados. Mas e agora, o que mudou?

Mudou que as pessoas até pouco tempo atrás, com o vírus relativamente controlado, se acharam livres e imunes ao vírus e se alvoroçaram saindo de suas tocas e dando início a grandes aglomerações em bares, festas públicas e particulares, parques, praias, shoppings.

Enquanto número de mortos só aumenta,
população continua aglomerando
 em espaços públicos e sem proteção...

Enfim, simplesmente cansaram de se cuidar e a pressão do marketing e do comércio para que tudo fosse reaberto acabamos por dar um passo maior do que as pernas e acabamos na situação em que nos encontramos.

Não, não sou a favor de lockdown geral por acreditar que não resolverá a totalidade, mas sim sou a favor de um controle e fiscalização maior. A questão não é o comércio abrir, mas sim, a grande movimentação de pessoas que provoca para que tudo funcione, o que provoca aglomerações nos transportes públicos, por exemplo.

Hoje muitos comércios nem oferecem mais álcool em gel. Tapetes sanitizantes ninguém nem lembra mais que existe. A hipocrisia maior está nos aeroportos, onde somos obrigados a manter distanciamento nas filas de acesso às aeronaves, mas dentro dos aviões a aglomeração é geral, não há distanciamento de pelo menos aquela cadeirinha do meio ser deixada vazia.

E com isso chegamos a números assustadores de transmissões e mortes. O pior ainda está por vir devido a superlotação dos hospitais, tanto públicos quanto privados. Muita gente vai morrer sem assistência médica adequada. Por este motivo, a prevenção ainda é o melhor remédio.

Não há necessidade de “chover no molhado” e mandar usar máscara, usar álcool em gel (se bem que prefiro muito mais uma mão bem lavada com sabão do que usar o álcool) entre outras atitudes como não chamar amigos para comemorar o aniversário (mesmo que em sua casa), não reunir a galera no sítio, não compartilhar narguilé, chimarrão e tererê. São atitudes simples que combatem o vírus. Os especialista dizem que ele é vagabundo, morre com facilidade, mas quando infecta é muito perigoso, e com as aglomerações ele se fortalece através das mutações. Por isso é necessário mais do que ações do poder público, mas de cada um em evitar estes contágios.

Se tudo isso ainda não é suficiente pra você, aviso que as funerárias não estão dando conta do recado. Sim, está na iminência de faltar caixões para enterros. Os cemitérios estão superlotados. Mas se mesmo assim você insiste, boa sorte!

Por último, vou só expor alguns números. Desde que iniciou a pandemia já tivemos em Rondônia 170.515 casos, com 3.519 mortes. São quase 4 mil rondonienses que deixaram filhos, netos, tios, avós, muito tristes, desconsolados. Dentre estes muitas famílias foram desfeitas. Filhos ficaram órfãos, literalmente sem pai e sem mãe. E você está cansado de ficar em casa? Não aguenta mais? Eu também, mas prefiro me afastar de amigos, familiares do que ser afastado definitivamente e ficar isolado em uma UTI, intubado, inconsciente, ou sob sete palmos de terra. E você?

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Se o discurso da esquerda não mudar, Bolsonaro tem sérias chances de reeleger sim

 

Meus amigos, havia me prometido não escrever sobre política em minhas colunas e observações, até para me resguardar, tendo em vista que não sou um analista. No entanto, somos seres movidos a política e observando fatos de um passado recente e atuais, a escrita foi inevitável.

Lembro que Lula, por exemplo, tentou a presidência do Brasil por quatro vezes. Nas três primeiras não obteve sucesso. Por quê? Pois era um homem raivoso da esquerda, lutando contra “tudo isso que aí está”, sem, no entanto, apresentar uma proposta, uma ideia de país melhor.

Eis que surge Duda Mendonça em sua vida e propõe (isso na quarta eleição) uma reformulação. Não só da pessoa do Lula, mas do partido em si. O discurso muda para tons mais suaves. O então candidato repagina o visual e começa a apresentar propostas para o país entre elas reforma administrativa, previdenciária, financeira, acabar com a corrupção e com “tudo o que está aí”.

Pois bem, deu certo! O povo brasileiro comprou a ideia mais moderada. Enquanto presidente melhorou muita coisa. No entanto, as reformas tão propaladas nunca, nuca saíram do papel, pois vendeu o governo ao “centrão” e teve de lotear o governo para poder governar. E adeus reformas e dá-lhe corrupção” Que não vou entrar no mérito para não “chover no molhado”.

Pois bem. Tudo até andava bem, até que surge um cara que resolveu “peitar” o que estava estabelecido, sendo “contrário a tudo o que estava acontecendo” com o país e falando aquilo que o povo brasileiro queria e precisava ouvir. Um novo país, sem corrupção, salvar a Petrobras, as famílias, acabar com o politicamente correto etc, etc, etc...E assim aconteceu.

Dois anos após sua eleição, Bolsonaro para poder governar vende sua alma ao “centrão” também. E pela sua língua afiada acaba por falar coisas que um presidente jamais deveria expor em público (“eles querem a nossa hemorróida”, só para ficar em um exemplo) e não está conseguindo fazer as reformas tão propaladas.

Agora chego ao ponto que desejo para expor minha teoria. A classe média e pobre está sofrendo demais com a pandemia (perda de renda, empregos e inflação mascarada) e começa a se insurgir contra seu líder a quem confiaram.

A esquerda vocifera, mas, no entanto, não apresenta uma proposta de mudança. Uma alternativa sequer que se possa vislumbrar como salvadora.  São “apenas” contra o Bolsonaro. Isso não basta para atrair olhares e votos em 2022. É preciso mais. É preciso reflexão e a construção urgente em cima de um nome de um discurso moderador e que possa ser visto como alternativa a “tudo isso que está aí”.

Quem não lembra do nosso ministro da economia afirmando em rede nacional que se o dólar chegasse a R$ 5 “algo de muito errado estaria sendo feito”. Pois bem, está batendo às portas dos R$ 6 e ninguém se insurge contra isso? Um quilo de carne custar R$ 40? Gasolina a R$5 o litro? Mas quando era “somente” um deputado o Bolsonaro soube fazer discurso demagógico criticando a política de preços da Petrobras (tenho o vídeo para provar), mas quando assumiu jamais fez algo para mudar.

Enfim, se os contrários a tudo isso que está aí não se unirem em torno de algum nome e não construírem um discurso plausível, uma proposta de mudança para o país, pode esquecer. Bolsonaro será reeleito. Vocês têm 18 meses para isso senhores.  

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O beijo da morte completa oito anos de impunidade

 

No dia 27 de janeiro de 2013 ocorria uma das maiores tragédias já vistas no Brasil. O incêndio da Boate Kiss, na cidade de Santa Maria (RS) completa, neste ano, 8 anos de impunidade. Naquela noite de janeiro, jovens universitários comemoravam o acesso ao ensino superior em uma festa na boate quando um integrante da banda que animava o evento fez uso de fogos de artifício fazendo com que o  isolamento feito de espuma pegasse fogo, provocando pânico e tumulto e que acabou por matar por asfixia (direta no local e muitos posteriormente) 242 jovens e deixando outros 636 feridos.

Prédio da Kiss deve dar lugar a memorial
Foto: Geovani Berno

Mas, após oito anos de impunidade, os julgamento terão início em fevereiro, apesar do Ministério Público do Rio Grande do Sul ter entrado com pedido de adiamento para que todos os réus fossem julgados no mesmo local e dia. O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogerio Schietti Cruz negou os pedidos e um dos quatro réus acusados pelas mortes no incêndio da Boate Kiss, será julgado em data destoante dos outros três. O MP Gaúcho alegava que ao se dividir os julgamentos poderia ocorrer decisões divergentes.

Segundo o Jornal do Comércio, com a decisão, o julgamento de Luciano Bonilha Leão, o único réu que não pediu a transferência de local e será julgado em Santa Maria, deverá ser realizado no próximo dia 16.O Tribunal de Justiça gaúcho determinou que Mauro Londero Hoffmann e Marcelo de Jesus dos Santos serão julgados com Elissandro Callegaro Spohr em data ainda a ser definida.

O jornal também esclarece que Mauro e Elissandro (sócios da casa noturna) e Marcelo e Luciano (integrantes da banda que apresentou show pirotécnico na noite do incêndio) foram denunciados por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e emprego de meio cruel) por 242 vezes e tentativa do mesmo crime por mais 636 vezes, que é o número de sobreviventes identificados.

O que a população em geral quer e, em especial os familiares de todas as vítimas da Kiss, que seja dado um lenitivo da Justiça, ou seja, que os culpados recebam uma condenação justa, tendo em vista o assassinato em massa que provocaram por negligência. Que a punição seja de forma exemplar para que ações iguais a esta nunca mais se repitam. 

242 famílias esperam por Justiça 

Outro ponto que é necessário ser levantado é a transformação do local onde funcionava a boate Kiss em um memorial. Já há projeto aprovado, mas não há verba. Que as autoridades públicas tenham um pouco de decência e deem a destinação a este ponto de horrores em algo para ser lembrado para sempre, em memória daqueles que se foram de forma tão trágica, sem direito a despedidas e com requintes de crueldade.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Todo gestor público deveria andar a pé em sua cidade

 

Voltando a escrever em 2021 após alguns dias de recesso onde fui, com muito cuidado e zelo, visitar minha mãe no Rio Grande do Sul. Mais precisamente em Santa Maria. Sim, aquela da Boate Kiss que ceifou a vida de 241 jovens e os culpados continuam impunes (escreverei oportunamente sobre a tragédia que dia 27 completa 8 anos).

Em referência ao título, como em Santa Maria não existem pistas de caminhadas (até existem em alguns pontos da cidade, mas fechados devido a pandemia) como aqui temos em Porto Velho o Skate Park e o Espaço Alternativo, só para citar os mais famosos e maiores. Com isso, quem deseja praticar o saudável hábito da caminhada necessita se aventurar nas calçadas da cidade.

Assim como Porto Velho, Santa Maria também
foi uma cidade ferroviária

Desta forma, me deparei com uma série de pequenos problemas que a grande maioria das cidades enfrenta, mas que os gestores públicos acabam por deixar pra lá. Mas pelo lado positivo acabamos por ver a cidade com outros olhos e em mais detalhes.

Com as caminhadas redescobri minha cidade (pelo menos a zona mais central por onde caminhei). E percebi que é um problema crônico que nos afeta também que são as calçadas. Ora esburacadas, mal conservadas, ora fora de padrão. Esta situação deixa a desejar em acessibilidade a pessoas com necessidades especiais de locomoção e com problemas de visão. No entanto, perdemos feio em civilidade, pois grande parte dos semáforos e faixas de pedestres são muito bem sinalizados.

Outro problema crônico são os terrenos –poucos é bem verdade – abandonados em áreas nobres da cidade. Mas o que mais me chamou a atenção nesta visita de poucos dias é o descaso com as praças públicas. Quando era criança/jovem as praças eram atrativo para as famílias. Íamos brincar mesmo sem os pais. Desta vez me surpreendi com o abando da manutenção e a ocupação por usuários de drogas que consomem seus baseados natural e despreocupadamente.

Nas caminhadas também percebi a preocupação de parcela consciente da população em se proteger com a utilização de máscara. Pouquíssimas pessoas sem o acessório obrigatório, exceto nos bares e restaurantes.

Outro ponto que merece a atenção é a implantação da Zona Azul, que por estas bandas é tão contestada, e por lá muito utilizada em toda região considerada central. Os pontos de estacionamento foram muito reduzidos, permitindo maior fluidez no trânsito. Nos locais permitidos e com Zona Azul paga-se a partir de 15 minutos. Com isso também cresceu muito os estacionamentos particulares e a utilização do transporte coletivo, taxis e aplicativos, que por ser mais barato que duas horas de estacionamento, por exemplo, acabam por compensar o uso.

Com estes poucos exemplos citados, quero deixar claro que não é uma crítica, mas um pedido aos nossos gestores. Andem por nossa cidade. Conheçam verdadeiramente nossa cidade. Sintam na pele o que a população passa para que se busquem soluções criativas aos problemas mais simples, para que estes não se agravem.

A mobilidade urbana será, juntamente com o problema do lixo, água e saneamento, um dos mais graves problemas a ser enfrentado pelo atual e futuros gestores, tendo em vista que a cidade irá crescer, o número de pessoas circulando será maior e a quantidade de carros também. Portanto, pensar a cidade para os próximos 50 anos (pelo menos) é vital.

Fica então meu apelo para que todos nós caminhemos pela nossa cidade e descubramos a dor e a delícia de viver aqui. Apontar soluções criativas, ajudar na melhoria e na qualidade de vida. Este também é nosso papel. Portanto, caminhemos. E a realidade de sua cidade, como é? Diferente dessa que descrevi?

 

 

sábado, 5 de dezembro de 2020

Por que sou contra um novo lockdown total

Desde que passamos a (con)viver com a ameaça do novo coronavírus, sua rápida transmissão e possível alta taxa de mortalidade, vivemos com a seguida orientação do isolamento e dos cuidados de higiene e uso de máscaras, na tentativa de evitarmos a disseminação do vírus e o contágio de pessoa para pessoa, pois o mesmo se propaga facilmente pelo ar penetrando nas mucosas da boca, nariz e olhos. Vindo da China, o vírus se propagou rapidamente e de endemia se transformou em pandemia atingindo todos os continentes sem distinção de classe, cor, sexo e idade. Digamos que é um vírus democrático, pois não escolhe vítima para sua propagação, apesar da aparente letalidade maior em pessoas idosas e portadoras de doenças crônicas. Desta forma, desde o início da doença, quando se percebeu a sua rápida disseminação, o isolamento social, foi decretado o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais, cinemas, teatros, escolas, igrejas, templos religiosos. Famílias foram separadas, avós não podiam (ou tinham de evitar) o contato com netos, abraços foram negados e uma série de restrições impostas. Em muitos lugares o isolamento funcionou e a propagação do vírus e a conseqüente mortalidade foi reduzida. Em outros lugares isso não ocorreu. Por quê? Por uma simples razão: o descumprimento do isolamento e a farta realização de festividades às escondidas. O fechamento de todo o comércio causou sérios prejuízos à economia mundial, com desemprego e tantas outras consequências que ainda não chegaram na totalidade e serão sentidas um pouco mais pra frente.
Crédito: Secom-RO
No entanto, se tivéssemos aprendido a lição do respeito ao distanciamento e do uso correto de todas as medidas de proteção, muitos fechamentos poderiam ser evitados. Mas o homem é desrespeitoso para consigo mesmo e com o próximo. Vejamos. Se ao invés de fechar todo o comércio fosse feito um revezamento de funcionários com todos os controles sanitários que conhecemos hoje, a limitação de pessoas nos estabelecimentos (até porque mercados, farmácias e postos de gasolina não fecharam as portas) e também isolássemos as pessoas de risco elevado, acredito que não estaríamos neste patamar de casos e mortalidades. Um outro fator preponderante para o crescimento vertiginoso no Brasil foi as Eleições. Poucas pessoas falam e tem coragem de falar, mas a campanha contribuiu, e muito, com o crescimento de casos. Tanto que após o fechamento das urnas, muitas cidades retornaram ao isolamento e fechamento de bares, restaurantes, etc. As comemorações de vitórias nas urnas foi um desrespeito a quem cumpre isolamento e distanciamento social, pois escancarou nas redes sociais festas com dezenas de pessoas sem o menor cuidado. As festas com altíssima concentração de jovens não pararam. Os bares (refiro-me especialmente a Porto Velho) estão lotados. E de nada adianta limitar em 50% o número de pessoas, pois se foram as festas é para se divertir e o que mais querem é se abraçar, beijar na boca e ser feliz. Não é isso o que dizem? Pois é, mas também levam o vírus para dentro de suas casas e com isso, a multiplicação exponencial do número de casos. Por estes e mais uma série de fatores, que sou contra um lockdown total, pois não resolverá. Mas sim, sou favorável à restrição seletiva de aglomerações com forte fiscalização policial e também ao toque de recolher às 22h. Ninguém precisa, neste momento, ficar na rua após este horário (salvo a quem trabalha em plantões, por exemplo). Portanto, se as autoridades sanitárias orientarem corretamente e o Executivo ouvir, se poderá sim fechar de forma seletiva e com limitações o comércio e se conseguirá viver e con(viver) neste (argh, odeio este termo, mas vá lá) “novo normal”, que segundo as autoridades japonesas, teremos de aprender a viver por pelo menos mais um ano e meio até que as vacinas estejam totalmente disseminadas e aplicadas na população. O que quero dizer com tudo isso, que não sou um especialista em saúde pública, mas um analista do que vejo e leio. E que não aprendemos ainda viver em sociedade. Que somos egoístas por natureza, daqueles que dizem: “se eu estiver bem o resto que se exploda”! Portanto, amigos, se não formos (re)educados neste sentido de que se eu prejudicar o próximo estou fazendo mal a mim mesmo, nada mudará e não terá lockdown que dê jeito. Portanto, é melhor aprendermos a ter bons hábitos, entender que aglomerações em grandes eventos só serve para matar gente e que precisamos viver assim por um bom tempo e reaprender a sermos sociáveis. E que comecem as críticas...